Alma Lusitana (by reanata)
Alma Lusitana... Por norma “Alma” significa parte incorpórea, imateral do ser humano, espírito, carácter, sentimento. E “Lusitana” vem descrito no dicionário como português, relativo à Lusitânia. Mas essas últimas palavras já são conhecidas do nosso vocabulário.Mas será que algo desta importância se pode resumir a simples definições de dicionário? Tenho a certeza que não.Quando se pensa em Alma Lusitana não se pensa na definição que vem ou não no dicionário ou então nas palavras pomposas que alguém da alta estripe iria pronunciar.Pensamos numa casa de fado. Nas suas paredes repletas de fotografias, de páginas do jornal emolduradas, de xailes, de guitarras portuguesas e da terra penduradas... Do som da voz do fadista que canta com todo o sentimento. Do eco que essa voz faz nas paredes que denotam o horror pelo vazio. O som das cordas da guitarra que se junta ao silêncio de um público que ouve tudo calmamente e docemente. Saboreando cada acorde... Lembramo-nosdos belos barcos que cruzaram em tempos os sete oceanos e os bravos marinheiros que lá estavam! Tudo isso imortalizado na voz de Camões. Vêmos, como se de uma fotografia se tratasse, aquele senhor já de idade, com o rosto rude, queimado pelo sol, mostrando a dura vida que teje, mas por baixo do seu farfalhudo bigode podemos ver o amavél sorriso que o tempo não levou. Pensamos nas festas populares. Nas ruas repletas de luzinhas. Na fogueira de São João rodeada de gente. Nos mangericos do Santo António. Das promessas de joelhos do Senhor Santo Cristo que fazem com que os corações palpitem e os olhos chorem. Do cheirinho das sardinhas a grelhar no churrasco que dá uma ténua luz aqueles de o rodeiam. Lembramo-nos dos idosos sentados no átrio da igreja a comentar que a juventude anda sempre de cerveja na mão e de cigarro na boca. E a juventude fala que os idosos não têm nada para fazer sem ser andar na cusquice. Recordamos o belo sabor de um cozido português, acabado de sair da caldeira. Das crianças, no Carnaval, a corre pela rua abaico com os balões de água e , no fim do dia, chegarem cansados e desejarem as deliciosas malassadas, uma fatia de pão caseiro quentinho ou uma fatiazinha de massa sovada. Aqueles longos dias passados debaixo de um sol abrasador, colhendo as sumarentas uvas. A viagem até à adega na companha dos colegas que só vemos de ano a ano e todo o proceso que torna aquelas pequenas bagas no mais divino vinho. Mas também lembramo-nos da ressaca que esse belo vinho nos dá. Nunca esquecemos as noites de Inverno, frias, a beber um chazinho que aquece não só o corpo como também a alma. E as noivas lá do norte todas vestidas de preto, mas carregadas de ouro? Ouro esse trabalhado todo em filamentos finissimos. Vemos os mais belos brincos de filigrana! Os mais belos colares! Todos os promenores que nos rementem para os trajes dos grupos foclóricos. Coloridos, bordados, únicos, históricos. E as saborosas bananas da Madeira? E as paisagens dos Açores? E as praias do Alentejo? E as matanças de porco que se faz... O cheiro dos chouriços a serem feitos e as morcelas a defumar. Não podemos esquecer os nosso belos monumentos... O Campo Pequeno! A Torre de Belém! A Torre dos Clérigos! O Convento de Mafra! A Sé de Coimbra! E os nossos artistas... Saramago, Malhoa, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Alice Vieira, Almada Negreiros, Santa Rita Pintor...Não vou dizer que somos um país sem defeitos, porque assim teria a mentir. Somos pessimista. Por vezes batemos recordes nas piores situações. Enauguramos coisas sem tarem prontas e somos muito confusos. Falamos mal de tudo, mas no fim não fazemos nada. Estamos mal por tudo e por nada. Ou está a chover demais, ou o sol está muito quente. Ou é a luz que subiu, ou a gasolina não baixa. Mas quando se trata de abrir a porta para dar um lugar à mesa a alguém é como na música que ficou imortal na voz da Amália... “E se á porta humildemente bate alguém / senta-se à mesa co’a gente”. Há sempre mais um lugarzinho. Seja onde for.Nem tudo o que vem de fora é bom! E nem tudo o que é nacional é mau. Isto foi escrito por alguém português, desde de pequenino... Agora a avaliação recai sobre si.
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